Skip to content

Resenha #01

Traduzimos e reproduzimos a resenha escrita por Todd McComb para o álbum Quem Indica? em http://www.medieval.org/music/jazz/. Escute o álbum em https://seminalrecords.bandcamp.com/album/quem-indica.

Here we copy the review written by Todd McComb at http://www.medieval.org/music/jazz/.
Listen to the album at https://seminalrecords.bandcamp.com/album/quem-indica.

For the original, english version, scroll Down or press here.

Novidade hoje, de Matthias Koole, da Seminal Records, é então Quem Indica?, que consiste em duas sessões diferentes, com músicos diferentes (tocando diferentes eletrônicas…), aumentando o duo subjacente de Koole & Henrique Iwao, gravado respectivamente, em junho de 2021 e janeiro de 2022. Koole & Iwao tinham aparecido por aqui pela primeira vez junto a Marco Scarassatti, em Disputa e Guerra no Terreiro de Roça de Casa de Avó, uma espécie de produção “barnyard” do Brasil, envolvendo instrumentos auto-fabricados (por Scarassatti). Aquela produção pode, portanto, ser descrita como rústica, enquanto que Quem Indica? se move, em vez disso, para o gênero muito contemporâneo da “gravação através da internet”: Há assim mais uma qualidade industrial em volta da música, gravada em tempo real via Sonobus enquanto Koole estava em Berlim, Iwao em Belo Horizonte (cidade que patrocinou a série da qual estas gravações derivam…), e Natacha Maurer & Ariane Stolfi em dois outros estados no Brasil.

(Na verdade eu já tinha começado a interrogar a noção de performance via internet em alguns exemplos anteriores à pandemia, mas isso se deu principalmente em pensamentos imediatamente após 2020: Eu fui provavelmente prematuro nisso, e quando alguns grupos estado-unidenses começaram a difundir mais material coletivo gravado pela Internet, eu já estava mais fascinado por outras coisas…. O fato é que parece que os músicos se acostumaram a este tipo de arranjo em um tempo relativamente curto e por isso os resultados não são obviamente diferentes. O que eu ouço, talvez, como o “aspecto internet” neste caso – & a orientação mais eletrônica-industrial não é inerente à abordagem via internet – é na verdade paradoxal: estas produções, sob outro aspectos de grande alcance, parecem especialmente íntimas, talvez derivando essa intimidade da interação com colegas que estão todos “dentro” de uma pequena caixa, presumivelmente o laptop… de tal forma que se poderia pegá-los e carregá-los por aí!)

Ambas as apresentações em trio são também diferentes, a primeira invocando aqui e ali mais o gênero da música de ruído (noise), talvez mais clássico pós-vanguarda, enquanto a segunda (na verdade gravada primeiro) envolve um ambiente de enquadramento & algum “looping” às vezes mais sugestivo de música pós-pop…. Há também uma qualidade definida de auto-fabricação (ou faça-você-mesmo) aqui, video trabalho anterior da Iwao & Koole, mas agora sem engenhocas de nomes exóticos (embora “eletrônica” seja sempre uma espécie de caixa preta…), e por isso provavelmente vale a pena dar a instrumentação completa aqui para cada faixa: QI157 = Iwao (bateria e objetos, shakuhachi, eletrônica), Koole (violão, objetos, eletrônica) e Maurer (computador, gravações de campo e efeitos). QI148 (parte 1) = Stolfi (playsound.space, voz, kazoo e percussão), Iwao (eletrônica, objetos, placa amplificada, voz de robô) e Koole (violão amplificado, eletrônica e objetos). “QI” refere-se à série Quartas de Improviso e os números certamente sugerem que o álbum Quem Indica? (outro QI…) foi selecionado a partir de um número considerável de sessões. (E eu tendo a ler o título em latim, mas acho que deveria ser em português….) Além do eletrônico-industrial há também uma variedade de atividade zoo-mimética às vezes, de fato tal como Disputa e Guerra…, enquadrando uma espécie de ambiente ou espaço florestal quase-curricular, uma espécie de vibração ecológica geral sendo evocada além da zoo-mimesis per se, chame-a talvez de ecolo-mimesis (abraçando a investigação da localidade)…. (Poderíamos citar exemplos relacionados, por exemplo, de músicos como Ernesto Rodrigues ou Daniel Thompson). O resultado também é bastante coerente, na medida em que a vibração faça-você-mesmo não cede (muito) a um exotismo sônico, ou apresenta a técnica instrumental per se. Em vez disso, um som coletivo é desenvolvido e os timbres estão mudando constantemente para elaborar e responder a esse ambiente sônico. Há, portanto, uma espécie de menagerie situada, texturas gerais inovadoras em vários pontos, mas uma sensação de mundo (até mesmo “enquadrada” no QI148).

Como esse texto já poderia sugerir, há também estabilidade e repetição ocasional (de tal forma que uma comparação textural de algumas passagens poderia ser novamente Compaixão e Evidência…), muitas vezes com um impulso mais rítmico no QI148, mas ainda com espaço para passagens estendidas invocando uma espécie de chilereado de inseto (& então até mesmo uma anfíbio-amfibiologia generalizada…). Talvez haja uma espécie de caos iminente às vezes também, mas esses mundos tortuosos e esculpidos não parecem se desintegrar. (E, é claro, a ampla colisão de hoje entre “natureza” e “tecnologia” tematiza e intensifica a interação). Portanto, mais uma vez, há aqui projeção de esperança (ou pelo menos de vida…), em torno do hibridismo e talvez de habitats-mundos que tragam mudanças de ritmo….

27 de julho de 2022

(Traduzido por Henrique Iwao)


[ENG]

New today from Matthias Koole at Seminal Records is then Quem Indica?, consisting of two different sessions with different musicians (on different electronics…) augmenting an underlying duo of Koole & Henrique Iwao, recorded respectively in June 2021 & January 2022. Koole & Iwao had first appeared here with Marco Scarassatti on Disputa e Guerra no Terreiro de Roça de Casa de Avó, a sort of “barnyard” production from Brazil, involving (per Scarassatti) self-made instruments. That production might consequently be described as rustic, whereas Quem Indica? moves instead into the very contemporary “recording over the internet” genre: There’s thus more of an industrial quality enveloping the music, recorded in real time via Sonobus while Koole was in Berlin, Iwao was in Belo Horizonte (which sponsored a series from which these recordings derive…), and Natacha Maurer & Ariane Stolfi were in two other states in Brazil.

(I’d actually begun interrogating the notion of internet performance with some examples prior to the pandemic, but mostly in thoughts immediately post-2020: I was probably premature in that, and by the time some US groups started putting out more collective material recorded over the internet, my fascinations had moved elsewhere…. The fact is, it seems that musicians have become accustomed to this sort of setup in relatively short order, and so the results are not obviously different. What I hear, perhaps, as the “internet aspect” in this case — & the more electronic-industrial orientation isn’t inherent to the internet approach — is actually paradoxical: These otherwise far-ranging productions seem especially intimate, perhaps deriving from interacting with colleagues who are all “inside” a little box, presumably the laptop… such that one could pick them up & carry them around!)

Both trio performances are also differently worthwhile, the first invoking more of the noise genre at times, perhaps more post-avant classical, while the second (actually recorded first) involves a framing environment & some “looping” sometimes more suggestive of post-pop music…. There’s also a definite self-made (or DIY) quality here, pace previous work from Iwao & Koole, but now without exotically named contraptions (albeit while “electronics” is always a sort of black box…), and so it’s probably worth giving the full instrumentation here for each track (as given to me in English — & now spelled out online too): QI157 = Iwao (snare drum & objects, shakuhachi, electronics), Koole (guitar, objects, electronics) & Maurer (computer, field recordings & effects). QI148 (part 1) = Stolfi (playsound.space, voice, kazoo & percussion), Iwao (electronics, objects, amplified plank, robot voice) & Koole (amplified guitar, electronics & objects). “QI” refers to the Quartas de Improviso series over the internet, then, and the numbers certainly suggest that the album Quem Indica? (another QI…) was selected from a considerable number of sessions. (And I tend to read the title in Latin, but guess it should be Portuguese….) Besides the electronic-industrial there’s also a variety of zoomimetic activity at times, indeed pace Disputa e Guerra…, framing a sort of quasi-rain forest environment or space, a kind of overall ecological vibe being evoked beyond zoomimesis per se, ecolo-mimesis (embracing interrogating locality) call it perhaps…. (One could cite related examples, e.g. from musicians such as Ernesto Rodrigues or Daniel Thompson.) The result is also rather coherent, in that the DIY vibe doesn’t yield (much) to sonic exoticism, or feature instrumental technique per se. Instead, a collective sound is developed, and timbres are shifting constantly to elaborate & respond to that sonic environment. There’s thus a sort of situated menagerie, novel overall textures at various points, but a sense of world (even “framed” in QI148).

As the foregoing might already suggest, there’s also a stability & repetition at times (such that a textural comparison for some passages might again be Compassion & Evidence…), often with more rhythmic drive on QI148, yet still with space for extended passages invoking a sort of insect-like twittering (& then even a generalized amphibian-amphibology…). There’s perhaps a sort of sense of imminent chaos at times too, but these twisting & sculpted worlds don’t seem to break apart. (And of course, today’s broad collision between “nature” & “technology” thematizes & intensifies the interaction.) So, once again, there’s projection of hope (or at least life…), here around hybridity & perhaps pace changing habitats-worlds….

27 July 2022